O C4-NP (Comitê Científico de Combate à Covid-19 do Interior Paulista) produziu uma nota técnica sobre a situação da pandemia de covid-19 em Birigui (SP). Segundo o documento, o município falhou no enfrentamento à pandemia, fazendo um comparativo com Araraquara (SP), reconhecida por ter tido medidas sanitárias e de saúde severas no combate ao vírus.
O texto tem como base informações oficiais das secretarias municipais, Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados Estatísticos), Santa Casa de Misericórdia de Birigui, IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, além de reportagens.
De acordo com a nota, a comparação entre os dois municípios paulistas deixa clara a diferença entre as medidas tomadas pelo poderes públicos municipais no combate ao novo coronavírus.
“Os dados demonstram uma realidade muito clara. Considerando que Araraquara, tendo aproximadamente o dobro de habitantes de Birigui, está com número menor de mortos, há que se buscar quais medidas foram realizadas diferentemente de Birigui para que se conseguisse ter este nível de sucesso na contenção da pandemia. Consequentemente quais medidas foram tomadas em Birigui para que houvesse resultados muito piores no controle da Pandemia de Covid-19”, relata o documento, que estará disponível entre hoje e amanhã (24) no perfil no Facebook do comitê .
Óbitos
Os pesquisadores consideraram um período de 15 dias, do dia 11 a 25 de junho de 2021. Para cada 100.000 habitantes em Birigui, 22,3 pessoas vieram a óbito. Enquanto que no mesmo período, em Araraquara, a cada 100.000 habitantes, apenas sete pessoas vieram a óbito. “A diferença é muito grande se considerar o tamanho e a demografia das cidades”.
De acordo com dados do IBGE de 2020, Birigui possui 124.883 habitantes e Araraquara 238.339 habitantes, ou seja, quase duas vezes mais que a população biriguiense.
“Se for considerada apenas a demografia, os números de Birigui deveriam ser a metade dos números de Araraquara, grosso modo . Contudo, algum fator contribuiu para que os números de mortos e contaminados ultrapassassem em cerca de 2 vezes os números de Araraquara, seguindo-se a proporcionalidade do número de habitantes”.
Isso significa que, se Birigui tivesse o mesmo número de habitantes de Araraquara, nas mesmas condições de combate à pandemia, o número de óbitos estaria na faixa de mais de 1.000, segundo documento.
Situação epidemiológica em Birigui
Até o dia 2 de julho, época em que os dados foram resgatados do site da Secretaria Municipal de Saúde de Birigui, o município teve um acréscimo no número total de casos positivos que subiram para 17.369. Desse total, 11.029 já se recuperaram. Dos confirmados, 433 são casos de profissionais de saúde que tiveram a doença.
Conforme os dados recolhidos em 25 de junho de 2021 na página da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, em janeiro de 2021, a média móvel de novos casos era de 78. Houve variações nesta média de contágio por diversos fatores, atingindo 26 novos casos em final de fevereiro, subindo para 106 novos casos em meados de março, caindo para sete novos casos no início de maio.
Birigui iniciou o ano de 2021 com 118 óbitos, apresentando uma média móvel de óbitos da ordem de um. A taxa variou, apresentando um ápice de cinco óbitos em meados de maio, tendo posterior queda para dois óbitos em 25 de junho – data em que o município chegou a 492 óbitos desde o início da pandemia.
Quanto ao número de casos, no começo do ano, eram 4.494 casos. Em 22 de junho, a ocupação dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) na Santa Casa era de 110%, número que oscila entre 90% até 120%.
Araraquara
Para fins comparativos, o documento expõe também os números de Araraquara. Até 25 de junho, a cidade estava com um total de 25.149 casos e 502 óbitos confirmados por covid-19. A taxa de ocupação de leitos de UTI estava na faixa de 79%, segundo dados do site de boletins sobre o coronavírus da Secretaria Municipal de Saúde de Araraquara.
De acordo com os dados da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, Araraquara começou o ano de 2021 com uma média móvel de 0,71 óbitos no final de junho.
A nota também citou São Carlos, que possui o número de habitantes semelhante ao de Araraquara, com 254.484 pessoas. Dessa forma, o comitê pretende mostrar de forma mais explícita a diferença entre a ação de políticas públicas na implementação de medidas não farmacológicas e a ausência ou aplicação deficiente dessas medidas.
Medidas não farmacológicas
Araraquara fez um lockdown rígido entre os dias 21 de fevereiro e 2 de março de 2021, com barreiras sanitárias, antes da implementação das medidas restritivas em relação à circulação interna. Ambos os municípios (Araraquara e São Carlos) tinham índices epidemiológicos equivalentes para óbitos e internações.
“A diferença em janeiro de 2021 na média móvel de casos se deve provavelmente a diferenças nas variáveis individuais de cada cidade. O pico de novos casos em Araraquara foi entre 15 e 26 de fevereiro de 2021.
Posteriormente à aplicação do lockdown, houve um decréscimo drástico a partir de 21 de fevereiro de 2021 na média móvel de casos, bem como um decréscimo a partir de 2 de março de 2021 no número de mortes e internações reduzindo os índices abaixo dos da cidade de São Carlos, que apenas seguiu o Plano São Paulo.”
No intervalo entre 15 e 18 de fevereiro de 2021 também houve uma diminuição na taxa de transmissão em Araraquara, que ficou estabilizada na faixa de 0,6 enquanto São Carlos, que estava com 0,7, vai para 1,0 a partir de 15 de fevereiro.
A partir da comparação dos dados epidemiológicos de Araraquara com São Carlos e Birigui, sendo que a primeira adotou um lockdown rígido e a segunda e a terceira seguiram apenas o Plano São Paulo, o comitê mostra a eficácia das medidas não farmacológicas que foram devidamente aplicadas em Araraquara.